OS DESAFIOS DE
UMA TRADUÇÃO DA BÍBLIA:
BÍBLIA DE ESTUDO NVI
(ISBN: 978-85-7367762-1). EDITORA: VIDA.
BÍBLIA HEBRAICA
PESHITA (TORAH) EDIÇÃO 2011. (ISBN: 383.265 LIVRO 711 FOLHAS: 425).
VAMOS COMEÇAR PELA
PESHITA: PÁGINAS: 35-36:
Tradução de Almeida:
Coube ao Padre João Ferreira de Almeida a grandiosa tarefa
de traduzir pela primeira vez para o português o Antigo e o Novo Testamento,
Nascido em 1628 em Torre de Tavares, nas proximidades de Lisboa, João Ferreira
de Almeida, quando tinha doze anos de idade, mudou-se para o sudeste da Ásia.
Após viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia,
Almeida partiu para Málaca, na Malásia, e lá, através da leitura de um folheto
em espanhol acerca das diferenças da cristandade, converteu-se do
catolicismo à fé evangélica. No ano seguinte começou a pregar o evangelho
no Ceilão e em muitos pontos da costa de Malabar.
Não tinha ele ainda dezessete anos
de idade quando iniciou o trabalho de tradução da Bíblia para o português, mas
lamentavelmente ele perdeu o seu manuscrito e teve de reiniciar a tradução em
1648.
Por conhecer o hebraico e grego, Almeida pôde utilizar-se
dos manuscritos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado “Textus Receptus” do grupo
bizantino. Durante esse exaustivo e criterioso trabalho, ele também se
serviu das traduções holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana,
espanhola e latina (Vulgata).
Em 1676, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do
Novo Testamento, e naquele mesmo ano remeteu o manuscrito para ser impresso
na Batávia; todavia, o lento trabalho de revisão a que a tradução foi submetida
levou Almeida a retoma-la e envia-la para ser impressa em Amsterdã, Holanda. Finalmente,
em 1681 surgiu o primeiro Novo Testamento em português, trazendo no frontispício
os seguintes dizeres, que transcrevemos ipsis litteris: “O Novo Testamento,
isto he, Todos os Sacro Sanctos Livros e Escritos Evangélicos e Apostólicos do
Novo concerto de Nosso Fiel Salvador e
Redentor Iesu Cristo,
agora traduzido em português por Padre João Ferreira de Almeida, ministro
pregador do Sancto Evangelho. Com todas as licenças necessárias. Em Amsterdam,
por Víuva de J.V. Someren. Anno 1681.
Milhares de erros foram detectados
nesse Novo Testamento de Almeida, muitos deles produzidos pela comissão de
eruditos que tentou harmonizar o texto português com a tradução holandesa de
1637. O próprio Almeida identificou mais de 2000 (dois mil)
erros nessa tradução, e outro revisor, Ribeiro
dos Santos afirmou ter encontrado um número muito maior.
Logo
após a publicação do Novo Testamento, Almeida iniciou a tradução do antigo, e
ao falecer, em 6 de agosto de 1691, ele havia traduzido até Ezequiel 41,21.
Em 1748, o pastor Jacobus op den Akker,
de Batávia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida, e cinco anos depois,
em 1753, foi impressa a primeira Bíblia completa em português, em dois volumes.
Estava, portanto concluído o inestimável trabalho de tradução da Bíblia por
João Ferreira de Almeida.
Apesar dos erros iniciais, ao longo dos anos eruditos evangélicos
têm depurado a obra de Almeida, tornado-a a preferida dos leitores de fala
portuguesa.
A Bíblia de Rahmeyer.
Tradução completa da Bíblia, ainda hoje inédita, traduzida
em meados do século XVIII pelo comerciante hamburguês Pedro Rahmeyer, que residiu
em Lisboa durante 30 anos. O manuscrito dessa Bíblia se encontra na Biblioteca do Senado de Hamburgo,
Alemanha.
Tradução de Figueiredo:
Nascido em 1725, em Tomar, nas proximidades de Lisboa, o
padre Antônio Pereira de Figueiredo, partindo da Vulgata Latina,
traduziu integralmente o Novo Testamento, gastando dezoito anos nessa
laboriosa tarefa. A primeira edição do Novo Testamento
saiu em 1778, em seis volumes. Quanto ao Antigo, os dezessete volumes de sua
primeira edição foram publicados de 1783 a 1790. Em 1819 veio à luz da Bíblia
completa de Figueiredo, em sete volumes, e em 1821 ela foi publicada pela primeira vez em um volume único.
Figueiredo
incluiu em sua tradução os chamados livros apócrifos que o Conselho de Trento
havia acrescentado aos livros canônicos em 8 de abril de 1546. Esse
fato tem contribuído para que sua Bíblia seja ainda hoje apreciada pelos
católicos romanos nos países de fala portuguesa.
Na condição de exímio filólogo e latinista, Figueiredo pôde
utilizar-se de um estilo sublime e grandiloquente, e seu trabalho resultou em
um verdadeiro monumento da prosa portuguesa. Porém, por não
conhecer as línguas originais e ter-se baseado tão-somente na Vulgata, sua
tradução tem suplantado em preferência popular o texto de Almeida.
Ok! Agora, vamos passar ao
estudo da NVI:
A maioria das pessoas, cristãs ou não, tem pouco
conhecimento das dificuldades presentes na tradução da Bíblia. Quem lê a
Palavra de Deus bem impressa, bonita e com uma capa bem acabada não tem ideia de
tudo que é necessário para tornar disponível o livro mais lido e vendido do
mundo.
Antes de tratarmos dessas dificuldades, devemos destacar que
a tarefa de tradução da Bíblia é um ministério cristão. Lamentavelmente,
poucos são os cristãos que percebem tal realidade de imediato. A grande
verdade é que não é possível desenvolver quase nenhum outro ministério cristão
sem as Escrituras Sagradas traduzidas na língua do povo. Não seria possível
pregar, evangelizar, ensinar, discipular, e assim por diante, sem a
Palavra de Deus em nossa língua. Por essa razão, devemos dar graças a Deus pela
vida de homens como Jerônimo, Ulfilas, Lutero, Wycliffe, Almeida e muitos
outros tradutores da Bíblia. Homens
como esses dedicaram a vida para tornar compreensíveis as Escrituras a milhões
de cristãos e não-cristãos incapazes de entender as línguas originais.
Além disso, precisamos ressaltar que a tarefa de traduzir
a Bíblia não é nada fácil. Muitos
são os problemas e dificuldades enfrentados pelos tradutores. Com toda a certeza, para muitas
pessoas essa tarefa parece até muito simples. Tal opinião, porém, está longe da
verdade! Acreditam alguns que cada palavra do hebraico ou do grego
encontra um vocábulo equivalente em português (e nos demais idiomas).
Portanto, bastaria trocar as palavras da língua original pelos vocábulos em
português para vermos encerrada a tarefa de tradução da Bíblia. Quem sabe,
pensam alguns, um bom programa de computador até possa fazer isso. Infelizmente,
isso não é verdade; o fato é que a tarefa de
tradução é muito complexa. Nas linhas a seguir, procuraremos
apresentar ao nosso prezado leitor os principais problemas e dificuldades
enfrentados por um tradutor das Escrituras Sagradas.
A dificuldade
com os manuscritos antigos
Ao contrário do que muitos
imaginam, não existe um manuscrito bíblico único do qual se possa traduzir o
texto das Escrituras. Deus, em sua soberania, não quis deixar-nos
o manuscrito original do Antigo e do Novo Testamento. Na verdade, o
que temos à disposição são milhares de manuscritos posteriores, cópias feitas
por escribas no decorrer dos séculos. Apesar disso, estamos
absolutamente seguros de que a Bíblia é o documento antigo mais bem preservado
da história da humanidade. Não há dúvida alguma de que possuímos manuscritos
extremamente próximos dos originais. Todavia, um grande número de
pequenas diferenças entre os diversos manuscritos exige avaliação cuidadosa por
parte dos estudiosos para que se obtenha um texto mais próximo do original.
Quando isso acontece, é necessário buscar a ajuda da crítica textual, ciência
que desenvolveu critérios objetivos e científicos de avaliação do texto
bíblico. Com base nos resultados desses estudos criteriosos, é possível optar
corretamente por uma variante textual. Portanto, todo tradutor da Bíblia tem com primeiro
problema avaliar as variantes textuais dos manuscritos bíblicos e tomar
decisões com base nessa avaliação. Somente após esse primeiro passo será
possível fazer uma tradução fiel ao texto original.
No caso do Antigo
Testamento, escrito quase inteiramente em língua hebraica, os principais
manuscritos que precisam ser avaliados para uma boa tradução bíblica são o Texto
masorético, o Pentateuco samaritano, a Septuaginta (famosa versão grega do texto do Antigo Testamento), a Versão siríaca, os Targuns aramaicos e os famosos manuscritos do
mar Morto. Já
no caso do Novo Testamento, há centenas de papiros antigos, alguns códices
(cópias completas) e milhares de manuscritos mais recentes. O
resultado do trabalho da crítica textual mais confiável e respeitado pelo mundo
acadêmico encontra-se nas edições da Bíblia hebraica stuttgartensia (Antigo Testamento e no Novum Testamentum graece (organizado por E.
Nestlé e K. Aland).
A dificuldade da
compreensão do texto
Os autores do texto bíblico e os escribas que fizeram as
milhares de cópias dos manuscritos bíblicos antigos viviam num mundo muito
diferente do nosso. Falavam línguas (hebraico, aramaico e o grego)
que ainda procuramos compreender, pertenciam a uma cultura muito
diferente da nossa e não redigiam textos conforme a nossa atual expectativa.
Por essa razão, nem todos os textos
bíblicos são tão fáceis de ser entendidos, nem mesmo pelos peritos e
especialistas nas línguas originais. Às vezes a construção da frase não segue a lógica
gramatical comum da língua; em outras ocasiões ficamos em dúvida sobre onde
dividir a frase (a pontuação do texto grego do Novo Testamento, por exemplo,
não faz parte do original); em certas passagens bíblicas há palavras difíceis
de ser compreendidas, pois o significado primeiro delas não cabe no contexto.
Isso quer dizer que, mesmo depois de
estabelecido o texto pelos especialistas, isto é, com todos os problemas de
crítica textual resolvidos, nem sempre todos os textos bíblicos serão
decifrados e entendidos com facilidade. É por isso que o leitor comum muitas vezes já constatou
que alguns textos bíblicos encontram traduções diversas em diferentes versões
bíblicas. Embora nem todos saibam, a verdade é que vários
textos bíblicos admitem mais de uma tradução correta e, em muitos casos, alguns
deles exigem atenção especial e um trabalho cuidadoso para serem de fato
compreendidos.
A dificuldade do significado das
palavras
Ha uma ciência dedicada ao estudo do significado das
palavras. Essa ciência é chamada semântica. As principais fontes de pesquisa semântica são os
dicionários e os léxicos acadêmicos aos quais recorremos quando queremos
saber o significado de um termo. Isso não é tão difícil quando estamos
pesquisando o significado de termos falados atualmente na língua portuguesa. No entanto, quando queremos descobrir o significado das palavras
hebraicas, aramaicas e gregas, a tarefa é muito mais árdua. O significado exato
de muitas palavras, principalmente hebraicas, ainda é um desafio para os
estudiosos.
Talvez a ideia mais comum seja que a etimologia e a
melhor forma de descobrir o significado das palavras. Muita gente acredita que
o significado de uma palavra está na sua raiz, na sua ideia original. Em muitos
casos isso é verdade. Na palavra cefaloide, por exemplo, é fácil estender o
significado com base na etimologia. A primeira parte da palavra, cefal-, vem do
grego kephalê, que significa “cabeça”; já o sufixo –óide expressa a ideia de
forma. Assim, cefaloide significa o que tem forma de cabeça. Nesse caso, a
etimologia da palavra permite-nos saber com exatidão o seu significado. Nem sempre, porém, tais associações
etimológicas evidenciam o significado de determinado termo. Há casos como o
da palavra hipopótamo, na qual os radicais gregos significam literal e
etimologicamente “cavalo” (hipos) e “rio” (potamos). No entanto,
ninguém jamais concordará que “cavalo do rio” traduz com exatidão o significado
de hipopótamo. Finalmente, descobriremos também palavras cuja
etimologia até destoa no significado mais comum delas. É o caso da palavra
embarque. Na origem, o termo era usado em referência ao ato de entrar em um
barco. Todavia, hoje o termo é usado em referência ao embarque em um avião,
ao embarque em um trem (ou no metrô).
Diante desses exemplos, deve ficar claro que identificar o
significado de uma palavra requer mais do que descobrir sua origem ou sua
etimologia. Na verdade, cumpre levar em consideração a importância de outros
fatores fundamentais, como veremos adiante.
O fator
sociológico
O uso de uma palavra é determinado pelos falantes de uma
língua. Na verdade, as palavras não têm nenhuma relação intrínseca com os
objetos da realidade. Funcionam como etiquetas que nós, os falantes da língua,
colocamos nos objetos à nossa volta para podermos nos referir a eles. Assim,
cada língua cria as próprias palavras de modo arbitrário. Além disso, essas
palavras são muitas vezes criadas, independentemente da origem etimológica. Por essa Razão, para que se entenda o significado de um termo, é muito
importante descobrir em que sentido está sendo usado dentro de um texto, pois
muitas vezes a origem ou a raiz não serão
úteis na identificação do significado. O vocábulo grego logos, por
exemplo, significava principalmente palavra quando
traduzia um conceito semítico do mundo hebreu, mas para os gregos a ideia
básica era a de razão. O tradutor
do Novo Testamento terá de descobrir em que sentido o autor bíblico (Jo 1,1) estava usando a palavra logos. Graças ao
trabalho de exegetas e linguistas, hoje temos léxicos (dicionários) que trazem
uma avaliação semântica ampla e detalhada de cada termo hebraico, aramaico e
grego. Um léxico especializado é uma das ferramentas indispensáveis para a
compreensão e para a tradução dos termos bíblicos.
O fator histórico
O
aspecto sociológico da semântica leva-nos diretamente ao aspecto histórico. O
uso das palavras bem como o seu significado sofrem variações de acordo com a
época em que o texto Fo escrito. No caso dos estudos veterotestamentários, os especialistas fazem
distinção entre as diversas fases da língua hebraica: o hebraico arcaico, o pré-exílico e o pós-exílico. A verdade é que há diferença de vários
séculos entre um texto e outro. Diante desse fato, não há dúvida
de que a mesma palavra pode ter significados diferentes em épocas distintas.
No caso do Novo Testamento, apesar de todo o texto ter sido
escrito em grego, sabemos hoje que não era o grego clássico (dialeto ático).
Não é possível compreender o significado dos termos gregos do Novo Testamento
conhecendo apenas a cultura e a língua helênica clássica. Além de ser um grego
comum (coiné), o grego neotestamentário é também um
grego semitizado, ou seja, muito influenciado pela cultura judaica e pelo pensamento hebraico.
Somente com o conhecimento da história da cultura e das línguas bíblicas
poderemos conhecer o significado das palavras da Bíblia. Isso nos ajudará a não
conferir a esses termos um significado não pretendido pelo autor original
O fator literário
Um estudo aprofundado das Escrituras comprovará que não
podemos considerar o texto bíblico homogêneo do ponto de vista literário.
Cada autor usa certos termos de maneira característica. Nem sempre a
mesma palavra é usada no mesmo sentido por todos os autores. Cada autor bíblico escreve com tendências teológicas
específicas, a um público determinado, dentro de um panorama histórico
particular. Uma avaliação da terminologia usada por Lucas, por João e por Paulo mostra que cada um deles detém particularidades
linguísticas e teológicas que precisam ser consideradas numa tradução bíblica.
Além disso, é preciso frisar que os
diversos autores bíblicos escreveram em estilos literários distintos. A poesia hebraica, por exemplo,
não se caracteriza por rima, mas sim por paralelismos. Há construções poéticas
como inversões, quiasmos, acrósticos alfabéticos, aliterações etc., que
dificilmente podem ser de todo recuperadas numa tradução. Além disso, temos o
problema das expressões idiomáticas e das figuras de linguagem. Metáforas,
símiles, sinédoques, metonímias são usadas amplamente na Bíblia. Algumas dessas
figuras, se traduzidas ao pé da letra, podem não comunicar nada ou até
expressar uma ideia errada. Pretendemos desenvolver essa questão com
maiores detalhes mais adiante. Todavia, vale a pena citar aqui alguns exemplos.
Em
Gênesis 34,30 o hebraico diz:
E disse Jacó a Simeão e a Levi: Vocês me trouxeram
problemas, ao fazer-me cheirar mal entre os moradores da terra.
Cheirar mal é uma
expressão que significa odiar. O sentido aqui é atrair o ódio dos moradores da
terra (região).
Em
Salmos 41,9 o hebraico diz:
Até o meu melhor amigo (homem da minha paz), em quem eu
confiava e que partilhava do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.
O significado de
levantar o calcanhar contra é voltar-se contra.
A dificuldade
decorrente da peculiaridade das línguas bíblicas
Quando alguém tentar traduzir um livro do francês ou do
inglês para o português encontrará uma tarefa não muito difícil. As três
línguas são indo-européias, sendo muito semelhantes em estrutura e em
vocabulário. Até mesmo no inglês, pertencente ao ramo das línguas germânicas,
cerca de metade do vocabulário é formado por palavras de origem latina.
Quando alguém lê uma obra acadêmica em inglês, por exemplo, descobrirá que essa
proporção é ainda maior, pois os termos gregos e latinos são a base do
vocabulário científico e acadêmico de muitas línguas européias , mesmo de
muitas que não são classificadas como neolatinas. Todavia, quando se faz uma tradução do grego
bíblico e do hebraico (ou do aramaico) para o português, a tarefa é muito mais
difícil, pois a diferença cultural e linguística é muito grande.
O início das dificuldades reside
no vocabulário das línguas bíblicas. Os vocábulos muitas vezes não têm
correspondentes satisfatórios em português. O campo semântico das palavras é
muito particular e até mesmo estranho para nós.
Especialmente no caso do hebraico, as palavras dessa
língua semítica expressam conceitos bem concretos. Ideias abstratas são muito
raras. A expressão “fazer uma aliança”,
por exemplo, é literalmente em hebraico “cortar uma aliança”. Por essa
razão é impossível fazer uma tradução totalmente literal da Bíblia. Muitas frases não teriam sentido em português. Uma das
palavras muito importantes do Antigo Testamento, por exemplo, é o termo Sheol, traduzido por Hades no grego do Novo Testamento. Em algumas versões antigas essa
palavra foi traduzida por “inferno” em quase todos os versículos em que o termo
aparece. Sem dúvida alguma a tradução uniforme do termo não é
recomendável. O termo refere-se de fato ao “mundo dos mortos” e, em
muitos contextos, refere-se de modo concreto à “sepultura”. Assim Sheol
(e Hades) pode ser traduzido, dependendo do contexto, por várias palavras
diferentes. As possibilidades de tradução são: “profundezas”, “morte”, “sepultura”,
“mundo dos mortos” e “inferno”.
No caso do hebraico, uma característica interessante da
língua é a sua concisão. A
antiga língua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito. Os verbos de ligação são dispensados, os pronomes
pessoais estão embutidos na maioria das formas verbais, e algumas preposições e
sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos. Um exemplo
disso pode ser visto em Salmos 15,2.
O texto hebraico diz literalmente (sete palavras):
Andante integramente e praticante (da) justiça e falante
(da) verdade no seu coração.
Como se vê, é muito
difícil entender o sentido do texto, traduzido aqui bem literalmente.
Depois de traduzido adequadamente (19 palavras em português), o texto
fica assim:
Aquele
que é integro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a
verdade...
Outra questão que merece cuidado é o verbo grego e
hebraico. Estamos muito acostumados à ideia de tempo verbal em português. Para muitos é surpreendente
descobrir que o que caracteriza o verbo no grego e no hebraico não é
principalmente o tempo do verbo, mas sim o seu aspecto. Em hebraico, por exemplo, importa mais se a
ação é acabada ou não do que o tempo do verbo. Em muitas passagens
bíblicas somente o contexto determinará se o verbo será traduzido no futuro, no
presente ou no passado. O grego conhece formas verbais peculiares e muitas
vezes difíceis de ser traduzidas adequadamente. Entre elas destacam-se o
aoristo, o modo optativo e a voz média do verbo.
Finalmente, precisamos destacar
a grande diferença entre a estrutura sintática das línguas bíblicas e a do
português. A ordem comum da frase hebraica, por exemplo, é
inversa: começa com o verbo e depois traz o sujeito. As conjunções que
intermediam palavras e orações detêm funções sintáticas muito diversificadas e
podem ser traduzidas de maneiras distintas.
Os tradutores terão de
descobrir se determina conjunção está sendo usada de modo enfático,
explicativo, condicional, recitativo etc. Essa tarefa muitas vezes
exige estudo minucioso. O
texto grego, por exemplo, usa períodos longos, sem ponto-final. Um
caso famoso é o do texto de Efésios 1,3-14. Não é possível
conservar a legibilidade de um texto assim em português contemporâneo sem reorganizar
a pontuação. Dado o caráter introdutório desse livro, não
nos estenderemos mais sobre o assunto. Somente um estudo da sintaxe hebraica e
grega poderá revelar a complexidade dessas diferenças ao amigo leitor.
Conclusão
Diante dessa
avaliação, cremos que o nosso leitor já tem uma ideia razoável da complexidade
da tarefa de traduzir a Bíblia. Estamos certos de que essa breve introdução o
ajudará a entender o valor e a importância da tradução da Bíblia. Portanto,
cada um de nós deve:
1. Agradecer a ‘elohîm (grifo meu) pelo fato de termos sua
Palavra disponível em português.
2. Valorizar esse importante ministério e orar pelos
milhares de tradutores que trabalham em todo o mundo nessa obra tão importante.
3. Ser mais flexíveis e humildes, entendendo que a
dificuldade dessa tarefa comprova que toda tradução é imperfeita.
4. Descobrir que as
dificuldades bíblicas não devem abalar nossa emunah (fé) grifo meu; ao
contrário, descobrimos que ‘elohîm (grifo meu) é sábio e maior do que nós. A
Palavra de ‘elohîm (grifo meu) é mais profunda e rica do que imaginamos.
LUIZ SAYÃO
Linguista, mestre em hebraico
(USP), editor acadêmico de Edições Vida Nova e coordenador da tradução da NVI.
Vamos ver esse
exemplo na língua original:
ΚΑΤΑ ΜΑΡΚΟΝ
9
Vamos ver a tradução
dessa passagem pela Bíblia (Novo Testamento Interlinear) [Grego português]:
Editora – SBB:
Marcos:
9
24: Logo gritando
o pai do menino dizia: Creio; ajuda minha falta de fé.
Estudo
feito por:
Pesquisa
efetuada por: ANSELMO
ESTEVAN.
Formação: Curso bíblico “igreja Adventista do
Sétimo Dia”. Friburgo. 22 de Janeiro de 2.004. Duração de 5 meses.
Formação: (Pela Faculdade Ibetel – centro de
Suzano): “Curso Básico em Teologia”. [Aproximadamente 2 anos].
Término do curso em 07 de Agosto de 2.007.
Formação: (Pela Faculdade Ibetel – centro de
Suzano): “Curso Bacharel em Teologia”. [Aproximadamente 3 anos].
Término do curso em 08 de Julho de 2.010.
FILIADO À: OTPB – Ordem de
Teólogos e Pastores do Brasil.
Registro nº436.07.08/2013. (Pr. Flávio Nunes. Souza).
[1] Novo Testamento Grego: Westcott-Hort (1881).
Sociedade Bíblica do Brasil, 1881; 2007, S. Mc 9:24
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