Cristo em Josué. [MASCHIYAH em Y'HOSHUA]:
O
livro de Josué aponta para Cristo de várias maneiras. Do mesmo modo que a
primeira parte do livro apresenta Josué como um guerreiro liderando a conquista
de Canaã, o Novo Testamento fala de Cristo como o grande Guerreiro que conduz o
seu povo a tomar posse dos novos céus e da nova terra. O que Josué apenas
começou, Cristo cumpriu na sua primeira vinda ao derrotar Satanás
(Ef 4,8-9; Cl 2,15; Hb 2,14-15), continua a cumprir na guerra santa espiritual
que a Igreja enfrenta (At 15,15-17; Ef 6,10-18) e cumprirá de modo definitivo
na sua segunda vinda (Ap 19,11-21; 21,1-5).
Assim como a segunda parte do livro mostra a divisão da
herança de Israel entre todas as tribos segundo Yahuh havia determinado, o Novo
Testamento explica que Cristo dá ao seu povo a herança que lhe cabe. Em sua
ressurreição e ascensão, Cristo recebeu muitas bênçãos de Yahuh, bênçãos estas
que ele distribui ao seu povo por meio dos dons do Espírito (Ef 4,4-13). Assim,
o Espírito é o penhor que garante a nossa herança vindoura (Ef 1,13-14). Quando
Cristo voltar em glória, concederá ao seu povo a herança plena e eterna que
consistirá em reinar com ele para sempre sobre os novos céus e a nova terra (Ap
5,10; 22,5).
Do mesmo modo que a terceira parte do livro se concentra
na necessidade de uma vida fiel à aliança, o Novo Testamento ensina que Cristo
preencheu todos os requisitos da aliança para aqueles que crêem
nele, tornando-se justiça de Yahuh (2Co 5,21). Cristo cumpriu
perfeitamente toda a lei santa de Yahuh e sua justiça é imputada àqueles que
crêem (Rm 3,21-24; 4,3-13; Gl 2,16). Ao mesmo tempo, porém, a vida em
aliança com Yahuh continua a ser um período de teste, pois provamos a fé que
professamos ao conformar a nossa vida aos requisitos da aliança de Yahuh
conosco (Mt 24,12-14; Fp 2,12-13; Hb 3,14; 10,15-39; Ap 2,7.11.17.26.28.;
3,21).
JOSUÉ: Seguindo-se ao Pentateuco, o livro de Josué
inicia a narrativa de uma etapa – e não a menor – da história de Israel.
Conforme a tradição judaica, ele faz parte do grupo dos “Profetas anteriores”
(Josué, Juízes, Samuel e Reis).
O Livro de Josué pode facilmente ser dividido em duas
partes, seguidas de três conclusões (caps. 22; 23 e 24).
1. A conquista da terra prometida (1 – 12). Após um capítulo
de introdução (1), Josué envia espiões a Jericó; eles são acolhidos com
hospitalidade por Rahab. Os israelitas atravessam o Jordão e acampam em Guilgal
(3-4), onde se efetua uma circuncisão e uma primeira celebração da Páscoa em
terra canaanita (5). Na Palestina central, a conquista principia com a tomada de
Jericó (6), depois com a de Ai (8), no decorrer da qual é descoberto o pecado
de Akan (7). A seguir, Josué faz uma aliança com os guibeonitas (9), e isto
provoca uma coalizão dirigida pelo rei de Jerusalém contra Israel, resultando
na batalha de Guibeon (10). Na Palestina do norte, Israel tem de enfrentar uma
nova coalizão dirigida pelo rei de Hasor, cuja cidade foi incendiada pelos
israelitas (11). No cap. 12, um quadro recapitula a lista das cidades
conquistadas.
2. A
repartição territorial entre as doze tribos (13 – 19), à qual se pode, juntar
as enumerações das cidades de refúgio (20) e das cidades levíticas (21).
3.
Conclusões: as tribos transjordanianas que participaram da conquista (1,12-16)
são remetidas por Josué para seu patrimônio além do Jordão (22,1-6). Nesta
primeira conclusão, enxerta-se o episódio da construção de um altar por estas
tribos, ocasião de um pacto solene entre as doze tribos (22,7-34).
O cap. 23 constitui o testamento de Josué, sucessor de
Moisés.
O cap. 24 nos apresenta, em aparente paralelismo com o
precedente, a aliança firmada por Josué em Siquém.
Deste rápido resumo depreende-se que um só personagem domina
o conjunto das narrativas: Josué, filho de Nun, pertencente à tribo de Efraim
(Nm 13,8.16). O seu nome é, por si só, todo um programa. Josué significa: “O
YHWH salva”. Narra uma tradição bíblica que Moisés lhe mudou o nome de Hoshea
(Oséias) para Iehoshua (Josué); [AQUI, O NOME DE CRISTO QUANDO
TRANSLITERADO PARA “j” =JESUS SENDO ERRADAMENTE CHAMADO. POR ISSO YHWH
– SALVA. OU SEJA, “IEOSHUA” – SALVA = Josué CRISTO.], [Anselmo Estevan],
(Nm 13,16), definindo-lhe um novo destino.
Outras personagens bíblicas também receberam este nome que,
na época do Novo Testamento, RESULTOU EM “JESUS” – PALAVRAS DO
AUTOR - para um judeu de língua grega (cf. Hb 4,8). Para os primeiros
cristãos, isto facilitaria a aproximação entre a atividade de Jesus como
salvador e a de Josué como condutor do povo rumo à terra do repouso. (Página
323 - da Bíblia tradição ecumênica TCB – edições: Loyola. {SÓ QUE NO YHWH –
A TRANSLITERAÇÃO ESTÀ COMO SENHOR = YAHWEH = FORMA ERRADA – SENDO SENHOR =
BAAL. Anselmo Estevan}).
No Pentateuco, Josué vive à “sombra” de Moisés: com ele
sobe à montanha de Yahuh, segundo Êx 24,13; vela pela Tenda do Encontro (Êx
33,11); por vezes, desempenha um papel militar de destaque (Êx 17,8-16). Ao
saber que não atravessaria o Jordão para conduzir o povo à Terra Prometida,
Moisés confiou esta missão a Josué (Nm 27,18-23; Dt 31,7-8).
O Livro de Josué não pode ser lido com um registro que
referisse ponto por ponto as etapas da conquista e instalação de Israel em
Canaã. Sem dúvida, a crítica moderna cada vez mais reconhece o valor das
tradições em que ele se funda. Mas, entre os acontecimentos que ele refere (fim
do século XIII) e a data da redação final do livro, medeiam vários séculos. Por
outro lado, a imagem – que este documento propõe – de uma conquista total de
Canaã pelo conjunto da liga das tribos não resiste à crítica histórica. Canaã
só foi efetivamente conquistada no tempo de Davi (século X). Antes disso, como
o próprio livro repetidas vezes sugere, os canaanitas, ao invés de serem todos
exterminados, mantiveram-se nas planícies e não raro houve coexistência entre
eles e os israelitas (cf. 15,63; 16,10; 17,12.18). Por ocasião da morte de
Josué, somos informados de que um amplo território ainda ficava por conquistar,
embora já houvesse sido repartido pelas tribos (13 – 23).
Qual a perspectiva em que se deve ler este livro? Como é que
ele, aos poucos, se formou? Uma leitura atenta mostra que, em Js 2 – 10,
estamos diante de tradições particulares das tribos de Benjamim e Efraim, ou
seja, unicamente das tribos do centro, vinculadas ao santuário de Guilgal e
mesmo ao de Betel. Este primeiro conjunto foi compilado no fim do século X. A
esta altura, Josué conduzia todo o povo, entidade maldefinida no livro, mas que
de fato representa os guerreiros de algumas tribos que participaram da saída do
Egito. Todavia, bem mais que ao aspecto militar – que não deixa de ter
importância -, deve-se ser sensível à dimensão cultual e à apresentação
litúrgica dos materiais. A travessia do Jordão (3 – 4) com a presença da Arca,
réplica da travessia do mar dos Juncos, constitui uma entrada processional na
Terra Prometida. Em Js 5, a menção à circuncisão seguida da primeira Páscoa
celebrada com os produtos da região representa uma seqüência eminentemente
litúrgica.
Nesta base, uma releitura foi feita por um redator
pertencente à escola que produziu o Deuteronômio e que nele se baseou para
meditar a história passada de Israel à luz das experiências recentes (séculos
VII – VI). Esta meditação é particularmente perceptível nos grandes discursos
dos caps. 1 e 23, sem contar inúmeros retoques com relação à obra anterior. A
conquista é apresentada como obra de “todo Israel” (cf. 10,28-39). A menção
reiterada às tribos transjordanianas frisa o propósito de manter a unidade do
povo numa época em que ela estava em perigo (cf. 1,12-16; 12,1-6; 13,8-32;
22,1-6).
Paralelamente, exprime-se uma preocupação muito viva com a
fidelidade de Israel ao seu Deus – Yahuh, que a convivência com as demais
nações pode comprometer a todo momento; pois a Aliança supõe um compromisso
incondicional. Só nesta perspectiva é que se torna compreensível a insistência
no extermínio dos povos que habitam Canaã e na necessidade de vota-los ao
interdito (6,17.21; 11,12.14). Esta medida, que, a uma simples leitura das
narrativas, poderia nos chocar, é mais teórica do que real. Ela foi
imaginada posteriormente, por causa da experiência do perigo de idolatria, do
qual Israel não escapou.
Mais positivamente, o interesse dos redatores tem em mira a
terra que Yahuh prometeu aos antepassados do povo. Por isso, a segunda parte do
livro (13 – 19), muito menos influenciada pelo trabalho deuteronomista,
comporta uma demarcação de fronteiras e listas de cidades para cada uma das
doze tribos de Israel. Temos aí documentos muito preciosos sobre a divisão
tradicional da terra entre os membros da liga israelita. Alguns deles podem
remontar ao período que precede a realeza de Davi, mas não se podem excluir
complementos mais tardios, em função da respectiva evolução da situação em Judá
e Israel durante o período monárquico.
Além da redação deuteronômica, pode-se reconhecer na
elaboração do Livro de Josué uma influência dos meios sacerdotais. Em certos
capítulos, o papel do sacerdote Eleazar ou do seu filho Pinhas chega a
suplantar o de Josué (14,1; 19,51; 21,1; 30,32), e a maioria desses relatos
está vinculada ao santuário de Shilô.
Se levarmos em conta esse extenso trabalho redacional,
teremos uma noção mais exata daquilo que, do ponto de vista histórico, se deve
esperar do Livro de Josué. Não há dúvida de que a apresentação da conquista sob
a guia exclusiva de Josué procede de uma sistematização que não nos deve
impedir de perceber a complexidade dos fatos. Por exemplo, nada se diz da
conquista de Betel, que, entretanto é referida em Jz 1,22-26. A tomada de
Siquém não aparece em nenhum relato, sinal provável de que houve uma instalação
pacífica, por um acordo com os habitantes desta cidade. A conquista de Hebron e
Debir é atribuída a Josué (Js 10,36-39), ao passo que ficamos sabendo em outro
lugar que o verdadeiro conquistador de Hebron foi Daleb, e o de Debir, Otniel
(15,13-14; 15,17 e Jz 1,11-13).
Para restabelecer a verdade histórica deste período,
freqüentemente se invocou o testemunho da arqueologia. De fato, as escavações
empreendidas em cidades antigas não raro atestam violentas destruições,
ocorridas na passagem da Idade do Bronze Recente – que termina por volta de
1200 – para a Idade do Ferro. Já que a entrada dos israelitas em Canaã é dotada
por volta de 1230, houve a tentação de atribuir a eles essas destruições. Mas
não se podem descartar, por um lado, rivalidades entre as cidades-estados canaanitas,
por outro, a presença nesta época de invasores de outra origem. O argumento
arqueológico perde então sua força. Todavia, uma cidade como Hasor, cuja
destruição é situada pelos arqueólogos no fim do século XIII, pode efetivamente
ter sido incendiada pelos israelitas, conforme atesta Js 11,10-11. No caso de
Jericó, os indícios arqueológicos revelaram-se decepcionantes quanto a este
período, e a narrativa de Js 6 tem mais a aparência de uma liturgia guerreira
do que um relato circunstanciado do cerco contra a cidade. Não se pode deixar
de admitir que o texto bíblico nem sempre dá resposta às perguntas que nós lhe
fazemos.
Muito mais do que Josué, a personagem central do livro é a
Terra Prometida. O que era objeto da promessa no Pentateuco encontra aqui cumprimento.
Por isso, houve quem chegasse a falar de um Hexateuco, acrescentando Josué ao
Pentateuco. A Terra é o lugar da fidelidade de Yahuh para com seu povo e do
povo para com seu Deus – Yahuh. Penhor da aliança entre Yahuh e Israel, ela não
é um símbolo inanimado, mas um convite vivo e insistente ao homem de assumir a
realidade criada para santifica-la. A ocupação de Canaã e sua divisão cadastral
entre os filhos de Israel cumprem a promessa patriarcal renovada por Yahuh a
Moisés. Não devemos nos deter ante a aridez das enumerações topográficas, mas
partilhar a alegria do redator que pormenoriza a herança dada por Yahuh às
tribos.
O Livro de Josué afirma que a Terra é simultaneamente dom e
constante objeto de conquista. Há nisto uma nunca resolvida tensão entre o
presente e o futuro, constitutiva da existência do povo de Yahuh.
Bíblias de Estudo: Teb - Tradução Ecumênica; Genebra. Edição Revista e Ampliada - foram usadas nesse estudo!
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