PAI E FILHO COMPARTILHAM O MESMO NOME:

PAI E FILHO COMPARTILHAM O MESMO NOME:
"NÃO HÁ SALVAÇÃO EM NINGUÉM MAIS!".

sábado, 3 de março de 2012

O QUE SÃO AS: EPÍSTOLAS PASTORAIS?

EPÍSTOLAS
PASTORAIS


INTRODUÇÃO


No conjunto de “corpus Paulino”, as duas
Epístolas a Timóteo e a Epístola a Tito formam um todo homogêneo, tanto no
plano literário como no doutrinal. Aliás, se excetuarmos o breve bilhete a
Filêmon, estas são as únicas cartas nomeadamente endereçadas a pessoas. Desde
que, no início do século XVIII, D. N. Berdot e P. Anton as chamaram de
“Epístolas pastorais”, esta denominação tornou-se tradicional. De fato, ela
realça convenientemente a natureza particular desses escritos que contêm
precipuamente normas relativas aos “pastores” das igrejas.


Destinatários.
Timóteo. A respeito de Timóteo, possuímos
informações de primeira mão, tanto por intermédio de Lucas, nos Atos, como por
intermédio do próprio Paulo.
A
primeira vez que Paulo se encontrou com aquele que se tornaria seu “auxiliar”
por excelência (At 19,22) foi em Listra, cidade da Licaônia, colônia romana
fundada por Augusto cerca de 6 a.C. Timóteo pertencia à média burguesia daquela
cidade. Seu pai era “heleno”, como diziam (At 16,1), em contraposição aos
autóctones, que falavam o dialeto licaônico, e gozavam de medíocre reputação.
Opina-se também que fosse pagão, já que Timóteo não foi circuncidado no
oitavo dia, de conformidade com a lei judaica. Sua mãe, Eunice, judia
convertida ao messianismo (At 16,1), e sua avó Lóide, mulher de fé
“sem subterfúgios” (2Tm 1,5), instruíram-no desde a mais tenra idade nas Sagradas
Escrituras (2Tm 3,15).
Quando
começou a trabalhar com Paulo, Timóteo era relativamente moço. (Essa
“juventude” deve ser interpretada de acordo com a linguagem da época, que
contrapunha facilmente jovem e ancião [1Tm 5,1; Tt 2,6; 1Pd 5,1], sem falar de
idade adulta. O tempo da juventude compreendia, pois, pelo menos em parte, o
que hoje chamamos de idade adulta). Cerca de quinze anos depois, o apóstolo
ainda poderia escrever-lhe: “Ninguém despreze a tua idade juvenil” (1Tm 4,12;
cf. 5,1; 2Tm 2,22). Dotado de aparência antes tímida e reservada (cf. 1Co
16,10; 2Tm 1,8), sua saúde delicada o sujeitava a freqüentes indisposições.
Sabe-se que o apóstolo o admoestaria carinhosamente a respeito disso: “Cessa de
beber só água. Toma um pouco de vinho por causa do teu estômago e de tuas
repetidas fraquezas”. (1Tm 5,23). Para evitar complicações com os judaizantes.
Paulo o circuncidou (At 16,3). Em data por nós desconhecida, Timóteo recebeu a
imposição das mãos do colégio dos anciãos (1Tm 4,14; 2Tm 1,6).
A
atividade apostólica do discípulo foi profundamente marcada pela do seu mestre.
Paulo o chamava com ternura de “nosso irmão, colaborador de Yaohu na pregação
do Evangelho de Maschiyah” (1Ts 3,2). Levava-o freqüentemente consigo nas suas
andanças missionárias (cf. At 17,14-15; 18,5; 20,4; 2Co 1,19). Encontramos
Timóteo ao lado de Paulo quando este escreve diversas cartas: 1 e 2
Tessalonicenses (1Ts 1,1; 2Ts 1,1), a segunda aos Coríntios (2Co 1,1), Romanos
(Rm 16,21), Filipenses (Fl 1,1), Colossenses (Cl 1,1), Filêmon (Fm 1). Paulo
confiou-lhe outrossim missões particulares na Macedônia (cf. At 19,22), especialmente
entre os tessalonicenses, sempre tão ansiosos pela parusia, para “confirma-los
e reconforta-los na fé” (1Ts 3,2.6). Mandou-o também aos coríntios, para lhes
recordar as “regras de comportamento em Maschiyah”, tais como ele as ensinara
“por toda à parte, em todas as igrejas” (1Co 4,17; cf. 16,10). Esses
testemunhos, que conhecemos graças aos escritos neotestamentários, permitem
supor que a colaboração missionária entre Paulo e Timóteo foi particularmente
estreita.
A
amizade de Paulo por Timóteo foi indefectível. Quando o carrasco estiver
postado diante da porta do cárcere, cerca do fim de sua vida, ele manifestará o
desejo de rever uma última vez (2Tm 4,9.21) aquele a que chama “meu verdadeiro
filho na fé” (1Tm 1,2).

Tito.
A respeito de Tito, só temos poucas informações, pois Lucas nunca o menciona no
livro dos Atos. Nasceu numa família “grega”, ou seja, pagã (Gl 2,3), foi sem dúvida convertido pelo próprio Paulo (cf. Tt 1,4), que
o levou à Assembléia de Jerusalém (Gl 2,1-3). Não foi obrigado a sujeitar-se à
circuncisão (Gl 2,3), como sucedeu a Timóteo. A sua atuação foi decisiva no
caso da regularização da questão de Corinto. Ele inverteu a situação em favor
de Paulo (cf. 2Co 7,7) e logrou suscitar para si a estima dos coríntios.
Escrevendo a estes, Paulo presta, a respeito dele, este magnífico testemunho:
“Ele nos relatou o vosso vivo desejo, as vossas lágrimas, o vosso zelo por mim,
a tal ponto que me causou uma alegria ainda mais viva... (Ele) recebeu de todos
vós uma plena quietação... Com isto a sua ternura para convosco só cresce,
quando se lembre da obediência de todos vós e com que temor e tremor o acolhestes” (2Co 7,7.13.15).
Paulo
prezou o seu talento e sua caridade, pois confiou-lhe a tarefa de dar a última
demão à organização das comunidades messiânicas em Creta (Tt 1,5). Segundo 2Tm 4,10, é
provável que ele tenha estado com Paulo em Roma por certo tempo, à ocasião do
segundo cativeiro e, a seguir, partia para a Dalmácia.


Data e lugar.
Segunda Epístola a Timóteo. Começamos com a
segunda Epístola a Timóteo, que parece fornecer os melhores elementos de
identificação. Segundo tudo indica, foi a última epístola pastoral na ordem
cronológica. Pois nela Paulo escreve: “Cheguei ao termo da minha carreira”
(4,7). Ela antecederia, pois, de perto, a morte do apóstolo.
Haveria
possibilidade de inserir este dado na trama da história, fixando para o
martírio de Paulo uma data precisa? Parece difícil. Duas soluções se oferecem:
-
A primeira admite a autenticidade das pastorais e supõe, por conseguinte, um
segundo encarceramento de Paulo (segundo cativeiro). Preso durante a
perseguição de Nero (entre 64 e junho de 68), o apóstolo teria morrido mártir
nesta época, talvez no ano 67 (cf. o testemunho de Eusébio, História
eclesiástica, II, XXV, 5). A esta data remontaria a redação da segunda epístola
a Timóteo.
-
A segunda solução não admite a autenticidade integral das Pastorais, e situa a
sua redação numa época certamente mais tardia, por volta do fim do século I ou
início do século II.
A
análise dos textos não permite resolver a questão com certeza num sentido ou no
outro. Por isso, qualquer das duas posições que se adote, será prudente
provê-la de algum coeficiente de probabilidade.
Eis
os elementos do problema: a segunda carta a Timóteo tem toda a aparência de ter
sido redigida em Roma (1,17), durante um cativeiro particularmente rigoroso:
Paulo jaz acorrentado “como um malfeitor” (2,9); este encarceramento assume a
seus olhos um caráter infamante: por duas vezes ele pede a Timóteo que não se envergonhe
dele (1,8.12), mas imite Onesíforo que, recorda ele, não teve pejo de suas
correntes (1,16) e o procurou “com zelo” para encontra-lo na capital romana.
Aliás, o apóstolo não se ilude a respeito do resultado de seu processo. Ele
sabe que está próximo o tempo de sua partida, que já foi oferecido em libação
(4,6). Sente-se terrivelmente
só: Demas o abandonou “por amor ao mundo presente”, Crescente partiu para a Galácia, Tito,
para a Dalmácia (4,10). Na primeira vez em que teve de apresentar a própria
defesa, escreve: “Ninguém me
assistiu, todos me abandonaram”
(4,16). Só Lucas permanece com ele (4,11). Suplica a Timóteo que venha
ter com ele o mais rápido (4,9), antes do inverno (4,21).
Trata-se
aqui de um cativeiro de Paulo em Roma – chamemo-lo de o primeiro cativeiro – em
At 28,30, cativeiro que se deu por volta de 61-63. Mas as circunstâncias desse
primeiro cativeiro não se adaptam às de 2Tm: Paulo permanecia então numa casa
que alugara, e podia receber livremente os que viessem procura-lo. Deve-se,
então, ou admitir um segundo cativeiro, durante o qual teria redigido sua
carta, cativeiro ao qual os Atos não se referem, ou então recusar os dados
históricos da carta e contestar sua autenticidade integral.
Eis
outro indício: Paulo pede que Timóteo lhe traga o manto que ele deixou em
trôade, em casa de Carpo, assim como os livros, sobretudo os pergaminhos
(4,13). Ora, não é possível identificar essa estada em Trôade com aquela de que
nos fala Lucas em At 20,5. Essa estada, segundo At 28,30 é, com efeito, cinco
anos anterior ao fim do primeiro cativeiro. Não seria fácil supor que Paulo
tenha deixado um manto para o inverno durante cinco anos em casa de seu amigo
Carpo.
Uma
última observação: Paulo ressalta que deixou Trófimo doente em Mileto (4,20).
Este dado não se coaduna com os de At 21,29, onde nós vemos o mesmo Trófimo, em
bom estado de saúde, percorrer Jerusalém com Paulo, antes do primeiro
cativeiro.
Por
todas essas razões, não se pode confundir a estada de Paulo em Roma, segundo
2Tm, com a outra da qual nos fala Lucas em At 28,30. Por isso é que alguns
defendem a hipótese de um segundo cativeiro romano.

A
Primeira Epístola a Timóteo e a Epístola a Tito. Essas duas epístolas usam o
mesmo vocabulário e tratam dos mesmos assuntos que a segunda carta a Timóteo.
Devem pois ser da mesma época. Os dados que poderiam conferir mais precisão
cronológica são irrelevantes. Pode-se tão-somente asseverar que essas duas
cartas não foram redigidas nem antes, nem durante a terceira excursão
missionária, nem depois da segunda a Timóteo.
Conforme
1Tm 1,3, Paulo está de partida para a Macedônia e deixa Timóteo em Éfeso, para
ali dirigir a comunidade. Não é provável que essa estada de Timóteo em Éfeso
coincida com o período da “terceira” viagem missionária, já que, durante esse
tempo todo, ele esteve na comitiva imediata de Paulo. Por outro lado, os erros
que se tinham infiltrado na comunidade e que o apóstolo predissera em seu
discurso de despedida aos anciãos (At 20,29) permitem supor que a Igreja de
Éfeso já estivesse fundada havia certo tempo. Somos portanto induzidos a
recorrer à mesma alternativa que no caso anterior: ou recusar a historicidade
desses dados, ou supor que Paulo, após o primeiro cativeiro em Roma, que
terminou por volta de 63, tenha recomeçado o seu ministério apostólico e
redigido a epístola depois 63 e antes da segunda a Timóteo.
Esta
última hipótese pode ser aventada também quanto a Epístola a Tito. Conforme Tt
1,5, Paulo deixou Tito em Creta, para que concluísse a organização da Igreja
que lá fundara. Escreve-lhe durante uma viagem (Tt 3,12), e pede-lhe que o
venha encontrar em Nicópolis, para passarem o inverno ali. Sendo exatos esses
dados, esta atividade missionária deve situar-se nos anos que se seguiram à
libertação de Paulo, por volta de 63-67.


Conteúdo.
As pastorais e o paulinismo. Em geral, a
homogeneidade das Epístolas pastorais não é discutida. Outra é a questão da
relação entre a teologia das Pastorais e o paulinismo. Ao fazer a comparação
entre uma e o outro, descobrem-se há um tempo semelhanças impressionantes e
sensíveis diferenças, e é a interpretação que se deve dar a este fato que
suscita opiniões diametralmente opostas.

Semelhanças.
Pôde-se afirmar que “em nenhuma parte da literatura extrapaulina a doutrina
paulina manifesta-se tão claramente quanto nas Pastorais”. E é um fato que, nas
Pastorais, se encontra boa quantidade de grandes afirmações paulinas: a
misericórdia divina manifestou-se em Yaohushua Maschiyah, que veio para salvar
os pecadores (1Tm 1,12-17); o homem salva-se pela graça (Tt 3,7) e por meio da
fé (1Tm 1,16; 2Tm 3,15); a justificação pelas obras está excluída (Tt 3,5; 2Tm
1,9); há uma relação estreita entre o batismo e a salvação (Tt 3,5); a salvação
dos homens efetua-se de conformidade com o plano eterno de Yaohu (o “mistério”
agora revelado: 1Tm 3,16). A tudo isso devem-se ainda acrescentar as exortações
dirigidas aos escravos (1Tm 6,1-2) e as referentes à atitude a ser observada
para com as autoridades (1Tm 2,1; Tt 3,1); o acento posto na utilidade dos sofrimentos
do apóstolo em vista do bem dos fiéis (2Tm 2,10); a recordação dos sentimentos
do apóstolo (tais como a humildade, 1Tm 1,12-14; ou seu afeto para com Timóteo,
1Tm 1,2.18; 5,23; 2Tm 1,2; 1,4; 4,9.21; etc.); a delicadeza que se deve
demonstrar para com os que se desencaminham (2Tm 2,25). A lista dessas
semelhanças é suficiente longa para obrigar-nos a admitir (no mínimo) que as
Pastorais foram redigidas num ambiente paulino.

Diferenças.
Todavia, as diferenças entre a teologia das Pastorais e a grande corrente
paulina são tão reais quanto as semelhanças. Se se encontram nas Epístolas
pastorais as grandes afirmações paulinas referentes à salvação, estas, não
raro, vêm expressas através de outro vocabulário. Em vez de ser considerada
sobremodo como vínculo que prende o crente a Maschiyah, a fé é concebida, de
preferência, como adesão e fidelidade à doutrina estabelecida (1Tm 4,1; 6,21),
à “santa doutrina” (1Tm 1,10; 2Tm 4,3) ou ao “depósito” transmitido a homens
como Timóteo (1Tm 6,20; cf. 2Tm 2,2). Fez-se notar também a insistência na
prática das “boas obras” (1Tm 2,10; 5,10.25; etc.) e um conceito da moral que
foi qualificada de “burguês”, por oposição às exigências mais radicais das
grandes epístolas paulinas; “o lugar primordial da fé parece agora ter sido
tomado pela ‘piedade’, termo que ocorre a cada passo nas Pastorais, sendo
totalmente estranho ao vocabulário paulino”. O amor tende a tornar-se uma
virtude equiparando às outras, em vez de ser a que comanda todas as demais (1Tm
4,12). As referências ao Rúkha
hol RODSHUA são acessórias e
verifica-se que a graça é considerada numa perspectiva assaz limitada (Tt
2,11-12). Finalmente, sublinha-se um enfraquecimento da expectativa
escatológica, com uma acentuação na necessidade de viver piedosamente no tempo
presente (Tt 2,11-14). Todos esses traços atestam ter-se chegado a uma época
mais tardia, na qual não se pensa mais em assentar os fundamentos da fé, e sim
em consolidar a Igreja e organizá-la em face das heresias que a ameaçam.

Organização
da Igreja. Num momento em que a maioria dos apóstolos já desapareceu,
acentua-se a responsabilidade dos dirigentes das Igrejas, bispos e anciãos (ou
presbíteros). Sob este ponto de vista, a situação que as Pastorais refletem é a
do fim do século I; aqui, não se trata, como em tempos vindouros, da
constituição de um episcopado monárquico, pois tanto os bispos como os
presbíteros têm praticamente a seu cargo as mesmas funções (cf. 1Tm 3,1 nota).
A ambos cabe a responsabilidade de velar pela fiel transmissão do ensino que
receberam, unindo á sua pregação o exemplo de uma vida santa (1Tm 3,1-7. Tt
1,5-9). Devem confirmar na fé os fiéis, para enfrentarem as investidas dos
falsos doutores. Quanto aos diáconos, que também devem levar uma vida
exemplar (1Tm 3,8-13), então encarregados de serviços mais particulares em prol
dos doentes e dos pobres. Chama bastante atenção verificar que os ministérios
proféticos ou carismáticos são deixados em segundo plano, talvez devido a
desordens semelhantes às que haviam sucedido na comunidade de Corinto. No seu
conjunto, os ministérios ainda não estão claramente delimitados; trata-se do
início de um movimento de organização que, no decurso dos tempos, a tradição
definirá.

As
heresias. As heresias, contra que as Pastorais reagem sem cessar, e que tornam
necessário o apelo à firmeza doutrinal, são definidas de forma demasiado geral
para poderem ser assimiladas ao gnosticismo característico do século II. Os
falsos doutores, que parecem atuar no âmago mesmo da Igreja, são influenciados
mormente pelas doutrinas judaizantes: são sobretudo judeus (Tt 1,10), que se arvoram em doutores da lei (1Tm
1,7), que suscitam controvérsias a respeito da lei (Tt 3,9), e recorrem a mitos
judeus (Tt 1,14), a lendas e genealogias (1Tm 1,4). Mas não é possível descobrir também no seu ensinamento o germe do
dualismo gnóstico, como a interdição do casamento e certos tabus alimentares
(1Tm 4,3), embora esses tabus possam ter provindo de ambientes judeus. A
afirmação de que a ressurreição já se efetuou (2Tm 2,18) também pode ter uma
origem gnóstica. Essas heresias andavam de par com o relaxamento moral (cf. os
numerosos catálogos de vícios das Epístolas pastorais. Todavia, é preciso notar
que tais catálogos eram muito conhecidos aos círculos estóicos: passaram para as
nossas epístolas por intermédio dos ambientes da diáspora relacionados com a
filosofia estóica. Sob este aspecto, esta influência estóica faz-se sentir
particularmente nas Pastorais).

O
louvor nas Pastorais. Entretanto, não se dá o justo valor ao alcance e
teológico das Pastorais, limitando-se discutir sobre o que nelas abarcam os
títulos de bispo ou anciãos, ou sobre as heresias que pretendem denunciar. É
mister, além disso, saber ouvir nelas certos ecos do culto de louvor da antiga
Igreja. Este louvor evidencia-se mormente nos fragmentos de hinos primitivos
reproduzidos nas Pastorais (1Tm 2,5-6; etc.), Alguns são eco dos hinos
gregos usados no culto das sinagogas da diáspora (1Tm 1,17; 6,15-16).
Outros, que exaltam a grandeza de Maschiyah e da sua obra, têm origem messiânica (1Tm 3,16; 2Tm 11-13).

Autenticidade. As Igrejas “messiânicas” afirmam a comunidade das Epístolas
pastorais. Vale dizer que a comunidade messiânica, guiada pelo Rúkha de Yaohushua, reconhece nessas cartas a Palavra de Yaohu. Mas o problema
da autenticidade permanece aberto: foi Paulo que as redigiu? De fato, conforme
acenamos acima, se se hesita tanto acerca da data da composição, é porque ela
está vinculada à questão da autenticidade. Múltiplos são os motivos que
provocam esta hesitação.
Eis,
em primeiro lugar, os argumentos de crítica externa. No sentir de alguns, eles
pesam grandemente em favor da autenticidade. Clemente de Roma, Policarpo de
Esmirna, Inácio de Antioquia conheciam e citavam as Pastorais. Isto
significaria que a tradição das Igrejas de Roma, Esmirna e Antioquia as
considerava canônicas. O Cânon de Muratori, fixado por volta de 180, insere-as
no corpus Paulino; Clemente de Alexandria cita-os mais de quarenta vezes;
Irineu atribui explicitamente a Paulo as citações que faz das Pastorais. Isto
significa que, na segunda metade do século II, essas cartas são conhecidas e
reconhecidas como paulinas e canônicas, exatamente como as demais dez
epístolas.
Talvez
haja um pouco de precipitação nesta conclusão. Seja como for, o argumento
tirado das semelhanças entre as Pastorais e as cartas de Inácio e Policarpo
perde muito de sua acuidade se supusermos que todos esses escritos dependem de
uma tradição comum anterior às Pastorais. Quanto ao testemunho do Cânon de
Muratori, pode-se opor-lhe o de Marcião que, pela metade do século II, não
aceita as Pastorais no seu cânon: verdade é que a condenação das heresias e
o elogio do Antigo Testamento que constam nessas epístolas só podiam desagradar
ao heresiarca, que rejeitava em bloco todo o Antigo Testamento.
No
plano da crítica interna, não é menos confusa a situação. Vem primeiro o
problema suscitado pela heterogeneidade do vocabulário. Num total de 902
palavras usadas nas Pastorais, 305 não se encontram em parte alguma dos outros
escritos de Paulo, e 175 em parte alguma do resto do NT. É muita coisa. Isso dá
um hapax (termo grego que significa “uma só vez”) para 1,55 versículo nas
Pastorais, ao passo que a proporção é de 1 hapax para 5,33 versículos em 1Co e
1 hapax para 3,66 versículos em 2Co. Qual a conclusão?
Não
se deve valorizar demais a importância desta aritmética. Dentre esses hapax.
Alguns há que não têm pretensão a nenhum significado particular. Tal o caso das
palavras puramente ocasionais, como estômago (1Tm 5,23), avó (2Tm 1,5),
pergaminho (2Tm 4,13), ou de latinismos como levar uma vida (1Tm 2,2),
malfeitor (2Tm 2,6), que se explicam pela estada em Roma. É preciso também
mencionar os termos bíblicos usados pela versão grega do AT e que ocorriam
muito naturalmente à pena daqueles que estavam familiarizados com a tradução
grega do AT.
Ficam
por explicar os hapax mais significativos. Eles podem provir simultaneamente do
assunto tratado e do escritor.
O
assunto tratado é especial: como conduzir a Igreja, que é a causa de Yaohu.
Paulo nunca o considerou com tanta amplidão. A novidade da situação acarreta a
renovação do vocabulário. Observam-se que 50 hapax referem-se às doutrinas
erradas, 29 às qualidades dos ministros da assembléia, 61 às funções e virtudes
de Timóteo e Tito, e 90 à organização geral da Igreja.
O
autor mudou, desde a época das grandes epístolas. É normal que um pensamento
tão vigoroso quanto o de Paulo esquive-se à esclerose e que esta evolução
imprima o seu cunho na do vocabulário. Isso não é peculiar às Pastorais, mas se
verifica em todo o evoluir da constituição do corpus paulino. Já não é fácil
provar que 1 Tessalonicenses e Colossenses provenham da mesma pena que 1
Coríntios.
Por
outro lado, Paulo envelheceu. O seu estilo tornou-se lento e empanado, inclinado
a moralizar: contam-se nada menos que 30 imperativos em 2Tm! Paulo esqueceu os
tumultuosos gritos de 2Co, os brados de Gl. “É um Paulo de convenção que, num
estilo paternal e fácil, escreve a um Timóteo artificial” (Loisy). O propósito
de clareza e ordem favorece uma linguagem técnica, inclina às palavras raras.
Tal evolução lingüística é normal num escritor que envelhece. Este crescimento
dos hapax com a idade topa-se em autores tão distantes entre si no tempo quanto
Platão e Shakespeare.
Finalmente,
sublinhou-se a importância que o secretário deve ter adquirido na redação
dessas cartas. Este argumento parece de singular peso a J. Jeremias. O amontoamento dos prisioneiros, a sujeira e a deficiência de
iluminação dos calabouços, a dificuldade de escrever com a técnica antiga – que
deve ter exigido para 2Tm vários dias de trabalho –, permitem supor que a
influência do secretário tenha sido considerável. A par dos trechos que Paulo
lhe ditou pessoalmente, por exemplo 2Tm 4,6-18, pode ser que tenha redigido
longos fragmentos em que se referia ao ensino do apóstolo e a suas conversas
com ele. Foi ele igualmente que, por própria iniciativa, deve ter integrado nas
Pastorais os fragmentos de hinos como 1Tm 1,17; 3,16; 6,15-16 e 2Tm 2,11-13,
cuja origem é cultual. Os demais pontos relativos à questão da autenticidade
podem ser passados em revista mais rapidamente. Como foi visto acima, as
dessemelhanças entre os ensinamentos das Pastorais e o paulinismo são
importantes. Seria possível deduzir daí um argumento decisivo contra a
autenticidade? Tal possibilidade chegou a ser cogitada. Mas pode-se também
admitir que estes escritos datem da velhice e do apóstolo, numa época em que
devia enfrentar problemas diferentes dos de suas primeiras epístolas.
Também
houve quem pretendesse encontrar um argumento contra a autenticidade na luta
que as epístolas travam contra o “GNOSTICISMO” (heresia que implicaria uma data de
composição bem tardia). Mas heresias a que aludem caracterizam-se por numerosos
traços judaicos e não apresentam de modo preciso as características do
gnosticismo do século II. [HERESIA: Opinião doutrinária contrária à
VERDADE RELIGIOSA (2Pe 2,1, RA]). {DOUTRINA: Conjunto
de ensinamentos religiosos (Is 42,4;Mc 1,22). Um desses ensinamentos (1Co
14,26; 2Jo 10)}. “MAS SE ESSES
ENSINAMENTOS – FOREM LEVADOS FORA OU MESMO ATÉ COLOCADOS AO LADO DO QUE JÁ
ESTÁ DITO PELA PALAVRA DE YAOHU [COLOCAR UM NOVO ALICERCE...], AÍ, SIM ENTRAMOS
NO SÉRIO RISCO DE DISTORCER A PALAVRA DE YAOHU! POIS NELA NADA DEVEMOS
ACRESCENTAR OU TIRAR PARA QUE NÃO SEJAMOS ACHADOS MENTIROSOS...COMO A PRÓPRIA
PALAVRA O DIZ!”. [Anselmo
Estevan.]. Os movimentos de
que aqui se trata podem muito bem ter existido em vida do apostolo Paulo.
Quanto
à organização da Igreja, as Pastorais mostram que alcançara uma expansão ainda
desconhecida no tempo das outras epístolas paulinas. Alguns estimam que as
diretivas fornecidas a este respeito reflitam a preocupação que afligia Paulo
antes de morrer. Contudo, é neste domínio particular que a autenticidade parece
mais difícil de sustentar.
Nós
não aludimos à dificuldade de harmonizar o quadro histórico que se nos depara
nas Pastorais com os dados fornecidos por Atos. De fato, a hipótese do
“segundo” cativeiro só é aventada para criar um quadro histórico no qual se
pudesse integrar a vida de Paulo de acordo com as Pastorais. Isto não significa
que ele não haja existido. Pois o fim do livro dos Atos, ao narrar o primeiro
cativeiro, não coincide necessariamente com o fim da vida de Paulo. A
organização, como se vê, é inapreensível. Em princípio, ela deveria fazer
pender a balança em favor dos dados das Pastorais, pois ninguém pode, sem
motivo, ser suspeito de inverdade.
Qual
a conclusão? Tanto aos que negam a autenticidade das Pastorais como aos que a
sustentam, não faltam motivos válidos. Outros estimam que uma posição
intermediária, que afirmasse uma inautenticidade parcial, poderia ser a melhor
solução. É possível supor que um admirador de Paulo procurasse estabelecer, em
vista das necessidades da Igreja no seu tempo, o que considerava ser o
testamento espiritual do apóstolo. Quanto aos pormenores concretos (por
exemplo, o manto e o pergaminho esquecidos em Trôade), proviriam de cartas
autênticas parcialmente encaixadas nas Pastorais.

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