PAI E FILHO COMPARTILHAM O MESMO NOME:

PAI E FILHO COMPARTILHAM O MESMO NOME:
"NÃO HÁ SALVAÇÃO EM NINGUÉM MAIS!".

sexta-feira, 2 de março de 2012

YIRMEYAHU

INTRODUÇÃO
AO LIVRO DE:


JEREMIAS



INTRODUÇÃO



Visão geral
Autores: Jeremias e Baruque, seu aluno e/ou
escriba.
Propósito: Lembrar aos
exilados os motivos de suas provações e garantir-lhes que, ao se arrepender,
o povo de Yaohu voltaria para a Terra Prometida com grandes bênçãos.
Data: 580-539 a.C.
Verdades fundamentais:
O exílio na Babilônia foi
merecido, pois o povo de Judá e Jerusalém persistia no pecado.
O templo em Jerusalém não
protegeria os habitantes de Judá do julgamento de Yaohu contra eles por sua
hipocrisia.
O povo devia
recusar os falsos profetas que proclamavam paz e segurança e aceitar a
mensagem dos verdadeiros profetas.
A decisão divina de
mandar o seu povo para o exílio seria seguida de restauração maravilhosa sob
uma nova aliança.



Propósito e características
As fases da mensagem de Jeremias não
correspondem exatamente à estrutura do livro.
(1) Ele chamou
Judá a se arrepender a fim de evitar o julgamento que, de outro modo,
certamente lhe sobreviria (p. ex., 7,1-15).
(2) Anunciou que o
tempo de arrependimento havia passado e que a decisão divina contra o povo já
havia sido tomada (19,10-11). O julgamento é o tema dominante do livro, sendo
entendido como invocação da maldição mais grave da aliança, ou seja, a perda
da Terra Prometida (Lv 26,31-33; Dt 28,49-68).
(3) O ETERNO
salvaria o seu povo, ou um remanescente do mesmo, por meio do exílio
(24,4-7). Os babilônios prevaleceriam sobre Judá segundo a ordem do ETERNO, mas
só por algum tempo. A Babilônia também cairia (25,9.11-12), o que isto de fato
ocorreu em 539 a.C., quando os babilônios foram derrotados por uma coalizão de
persas e medos sob o comando de Ciro, preparando o caminho para a volta dos
exilados (50,3; 51,1.27-28; 2Cr 36,20-23). Essa foi a resposta de Jeremias aos falsos
profetas que contestavam a sua mensagem de julgamento (28,2-4).
Jeremias também anunciou
uma mensagem de salvação, dirigida apenas àqueles que sobreviveriam ao
julgamento (29,11-14). Essa mensagem se consolidou na profecia da nova aliança
(31,31-34). Que é estruturada em torno dos elementos principais da aliança
mosaica no Sinai.



CHRISTÓS
– “O UNGIDO” –, EM JEREMIAS.
(Yaohushua):

A mensagem de Jeremias
antevê O UNGIDO principalmente na certeza de restauração do exílio
expressada pelo profeta. Ao mesmo tempo em que deixa clara a iminência do
exílio, Jeremias também mostra que depois do mesmo o povo de Yaohu entrará num
novo período da aliança repleto de bênção de Yaohu. O SALVADOR é o ETERNO
– YAOHU – YAOHUSHUA da nova aliança (Lc 22,20; Hb 8,8; 9,5; 12,24),
o filho de Davi e o Sacerdote que deu início às maravilhas dos últimos dias com
o seu ministério aqui na terra. Nos dias de hoje, ele continua realizando esta
obra de restauração que será completada quando ele voltar em glória Mt 4.



JEREMIAS.
1. A solidão do homem da
Palavra. Ao leitor do livro
que traz o seu nome, Jeremias se apresenta como um grande solitário. “Eu fico à
margem”: são estes os termos que ele usa para caracterizar seu relacionamento
com a sociedade (15,17). Incompreendido e perseguido, desamado por aqueles que
mais deveriam apoiá-lo e encorajá-lo, os membros de sua família (12,6;
20,10), ele não está com eles quando celebram um casamento, nem quando
choram um morto (16,5-9). Nunca chegará a conhecer o reconforto e a
responsabilidade da vida conjugal e nunca chegará a ser pai (16,1-4).
Preso, brutalizado, arrastado contra a vontade para o Egito, acabará seus dias
numa terra longínqua e nenhum vestígio restará de sua tumba.
Entretanto, estamos muito bem informados
sobre sua vida interior. Sabemos que essa solidão de modo algum, correspondia a
uma disposição natural de sua parte. Foi-lhe imposta por uma força externa que
o violentava, agredia, invadia, prendia, exigindo uma adesão total à sua
vontade e que tinha necessidade de sua solidão como de um meio para agir no
seio do povo de Judá. Essa força implacável era a Palavra de Yaohu.
Nenhum profeta evoca a Palavra de Yaohu e sua maneira de agir com tamanha e
dolorosa exatidão quanto Jeremias. “A Palavra do ETERNO veio a
mim” – é uma fórmula freqüente em Jr, que introduz e qualifica
seu discurso (cf. 1,2). “Ao encontrar tuas palavras, eu as devorava”
(15,16); {faço de Jeremias,
minhas palavras: “ACHADAS AS TUAS
PALAVRAS, LOGO AS COMI; AS TUAS PALAVRAS ME FORAM GOZO E ALEGRIA PARA O CORAÇÃO,
POIS PELO TEU NOME SOU CHAMADO, Ó “YAOHU”, DEUS DOS EXÉRCITOS”.}; embora elas o alegrem (15,16), seu
feito é freqüentemente devastador: “Todos os meus membros estremecem, torno-me
como um bêbado, um homem tomado pelo vinho, por causa de tuas palavras” (23,9).
Esta palavra de provação, “parecida com o fogo, com uma marreta que pulveriza a
pedra” (23,29; cf. 5,1 e nota) onde, na qualidade de profeta, tem o direito de
entrar. Além do mais, o ETERNO a põe em seus lábios (1,9), velando sobre ela
(1,12), para fazer dela um fogo que devore o povo recalcitrante (5,14). Às
vezes, a Palavra parece abandona-lo, torna-se rara e lhe impõe longos dias
de espera antes de voltar a comunicar-se (42,7). Na vida desse homem a
Palavra tornou-se o fator-chave, o centro incômodo, desmancha-prazeres e ao
mesmo tempo razão de ser, uma espécie de déspota imprevisível que,
aparentemente, o aliena de si mesmo e de seus semelhantes para, de fato,
mergulha-lo no centro mesmo da realidade.
É compreensível, então,
que Jeremias tenha tido de fazer um esforço constante para assumir essa Palavra
e para se assumir diante dela. Encontramos indícios disso nos numerosos
diálogos que balizam o livro e nos quais o profeta discute asperamente com
Yaohu sobre o sentido de sua existência de profeta. Os mais célebres são, sem
dúvida, aqueles que os exegetas modernos denominam as “confissões de Jeremias”
(11,18-23; 12,1-6; 15,10.15-20; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-13.14-18). Nelas o
profeta se queixa amargamente de seu isolamento, de sua “alienação”, da insignificância
de sua condição, mas a resposta é que essa condição é inelutável e faz parte de
sua missão profética. As “confissões” não são, contudo, os únicos diálogos
entre Jeremias e seu Deus – Yaohu. Outros podem ser encontrados no começo do
livro: a cena de sua vocação, quando o jovem Jeremias tenta em vão esquivar-se
ao domínio da Palavra (1,4-10), e as visões iniciais, constitutivas de seu
ministério (1,11-14), bem como a passagem em que o profeta é levado a
reconhecer o bem-fundado do veredicto divino relativo à situação da sociedade
de Judá (5,1-6), e aquela em que ele tenta em vão fazer cessar uma seca que
devasta a terra (14,1 – 15,9). Nestes diálogos, a palavra do homem confronta-se
com a Palavra de Yaohu, e é sempre esta que triunfa. Sejam quais forem as
circunstâncias históricas de seu desenvolvimento – não é fácil penetrar a
psicologia da experiência profética –, esses diálogos testemunham que a Palavra
de Yaohu era uma preocupação constante de Jeremias.

2. A autenticidade da
vocação profética. De todos os problemas que afetavam tal existência, o
pluralismo das convicções proféticas era um dos mais dolorosos. Jeremias não
era, de fato, o único que falava em nome do ETERNO. O próprio livro de Jeremias
nos informa sobre a atividade de homens que, ao mesmo título de Jeremias e ao
lado dele, reivindicavam o estatuto e os privilégios próprios de um profeta:
Uriáhu ben Shemaiáhu (26,20-24), Hananiá ben Azur (cap. 28), Ahab ben Qolaiá e
Sidqiá ben Maaseiá (29,21), e outros, profetas anônimos, mencionados em
inúmeras passagens (2,8.26.30; 4,9; 5,13.31; 6,13-14; 26,7-16; 27,16-18),
interpelados (23,9-40) ou citados por Jeremias (14,13), talvez até com
aprovação (cf. 4,10 nota); alguns inclusive encontravam-se entre os deportados
para Babilônia (29,1).
Os textos nos indicam em particular que, de
início, Jeremias não pretendia absolutamente destacar-se de seus colegas
profetas (cf. 14,13-16; 28,6-9; também 29,1), nem via motivos para
qualifica-los de “falsos profetas”. Encontramo-nos aqui em presença de um
aspecto particularmente delicado da solidão de Jeremias. Exceto uns critérios
morais de aplicação delicada (23,14.17.22; 29,23), ele praticamente não
dispunha de critérios objetivos que lhe permitissem distinguir o verdadeiro do
falso, privilegiar sua mensagem em relação à mensagem de muitos outros, que
defendiam a sua com tanta convicção quanto ele,
a dele (cf. porém 28,8). Afinal, ele próprio podia errar, como o podia
Hananiá, seu concorrente (28,6-9), ainda mais porque a opinião deste coincidia
com a da grande maioria dos chefes políticos e militares (cf. a seguir, § 4b).
A questão da
autenticidade e do sentido de sua vocação singular põe-se assim no centro de
seus colóquios com Yaohu. Se Yaohu é inspirador das mensagens, por que elas não
são unânimes? Se Yaohu enviou Jeremias, por que Jeremias é o único a proclamar
uma verdade que só ele aceita como tal (o destino de um homem como Uriáhu, cf.
26,20-24, profeta assassinado por Joaquim, não era capaz de reconfortar
Jeremias)? Se Yaohu credenciou seu profeta, por que ele sofre sevícias por
parte daqueles que deveriam alegrar-se ao saudar nele um confrade ou o
representante qualificado daquele que veneravam como Mestre? Está em jogo a
identidade, a pertinência da revelação.
Jeremias não esconde sua
confusão. No que diz respeito ao seu ministério, ele não é consciente de ter
cometido erros. Por acaso não assimilou fielmente a Palavra, não a “comeu” (cf.
15,16)? Não foi sempre absolutamente sincero (17,16b)? Não intercedeu por seus
semelhantes, até mesmo por seus adversários, como o faz todo verdadeiro profeta
(18,20; cf. 14,13; 17,16)? Por que, então, conhece a triste sorte de um
solitário, de um inadaptado, um eterno revoltado?
A resposta de Yaohu,
peremptória, não oferece nenhuma justificação. Todas as suas desgraças são
previstas por Yaohu e irão mesmo se agravar (12,5); o mensageiro contestado
nada pode, a não ser refazer-se e seguir caminho (15,19-21), empenhando a
própria pessoa em tornar seu discurso ainda mais incisivo (15,19). No que
diz respeito aos outros profetas, o ETERNO, que não os credenciou (14,14-16),
denuncia-lhes a impostura (23,16). Para dissipar as dúvidas que assolam a
alma do profeta, resta somente a absurda certeza de que é realmente o Yaohu
vivo que lhe fala.
Jeremias não viverá o bastante
para saber que, uma vez acontecida a catástrofe que ele anunciara, os judeus
iriam refletir sobre seu destino: alguns teólogos precavidos iriam colecionar
não somente os oráculos dele, mas também as tradições relativas a seu
ministério; ele terminará por ser considerado um profeta autêntico do ETERNO
(cf. infra § 5).

3. Dados biográficos. Comparadas
com esse conflito fundamental, as circunstâncias externas da vida do profeta
apresentam um interesse apenas secundário. Aliás, elas são pouco conhecidas, e
as conclusões que podemos tirar de alguns dados são, na maioria dos casos,
conjeturais.
De acordo com 1,1, o profeta era originário
de Anatot, pequena aldeia nos arredores de Jerusalém, onde sua família possuía
algumas propriedades (cap. 32; cf. 37,12), e era membro de uma família
sacerdotal. Chegou-se a deduzir que Jeremias fosse parente longínquo do
sacerdote Ebiatar de Shilô, exilado em Anatot por Salomão (1Rs 2,26-27), e que
a formação religiosa recebida na família paterna, as lembranças ancestrais e a
proximidade das fronteiras do extinto reino do Norte teriam moldado o estilo e
o conteúdo de sua mensagem. Mas nada é mais incerto.
De acordo com 1,2,
Jeremias foi chamado a ser profeta em 626, quando era “ainda jovem” (1,6).
Estas duas indicações biográficas sugerem que ele teria nascido por volta de
650-645. Contudo, não se exclui que o número mencionado em 1,2 (e repetido em
25,3) baseie-se numa tradição tardia a respeito da data da vocação de Jeremias
e que esta se situe com maior probabilidade por volta de 609-608. Isto
significa que várias hipóteses relativas aos primeiros anos de seu ministério
profético repousem sobre fundamentos um tanto frágeis: Jeremias teria saudado
com alegria a reforma de Josias em 622; ele teria chegado a colaborar ativamente
nesse empreendimento, através da pregação (cf. 11,1-14); por comportar a
supressão de todos os santuários, exceto o de Jerusalém, esta reforma arriscava
prejudicar os interesses vitais dos sacerdotes que neles serviam, o que
explicaria a hostilidade da família do profeta (11,18-22), mais tarde,
constatando os escassos resultados da reforma de Josias, que ficou sem
perspectivas para o futuro, o profeta teria fustigado, com ardor redobrado, a
infidelidade dos judaítas. Todas essas hipóteses são pouco convincentes, não só
porque a base cronológica é fraca (isto é, a vocação de Jeremias em 626), mas
também porque o livro não menciona de forma alguma essa famosa reforma de
Josias (que é elogiado por outras virtudes, cf. 22,15-16) e porque os resíduos
do vocabulário e do pensamento deuteronomista, que se percebem em 11,1-14 e que
caracterizam o conjunto do livro, admitem uma interpretação diversa (cf. a
seguir § 5); e, sobretudo, porque a oposição à mensagem de Jeremias é
motivada, de acordo com o próprio testemunho dele, não por eventuais
conseqüências materiais da reforma de Josias por ele divulgada, mas pela
irrupção desconcertante e até revoltante da palavra de Yaohu por meio de
Jeremias (cf. 11,21 e as outras “confissões”).
É mister reconhecer que
dispomos de menos informações sobre o início do ministério de Jeremias do que
desejaríamos. Em compensação, alguns incidentes posteriores nos são relatados
com muitos detalhes, na segunda parte do livro. Em 608, vemo-lo pronunciar um
discurso, junto à entrada do templo, que o coloca numa situação muito difícil
(cap. 26; cf. 7,1 – 8,3). Em 605-604, ele elabora uma primeira edição de seus
oráculos, conservados até então unicamente em sua memória – e, talvez, na
memória de alguns de seus ouvintes [cap. 36]. Em 594, Jeremias discute com
outros profetas {caps. 27 – 28} e, pouco tempo depois, envia aos exilados em
Babilônia uma carta decisiva para a evolução espiritual da diáspora judaica
(cap. 29). Finalmente, as disputas com o rei Sedecias e seus funcionários durante
o sítio de Jerusalém em 588-587 e sua atividade junto aos sobreviventes depois
da queda da cidade são objeto dos caps. 32 – 35 e 37 – 44. Vale a pena frisar
que essas informações, embora detalhadas, não constituem uma verdadeira
biografia do profeta – a própria posição no texto desafia a exatidão
cronológica –; elas representam apenas uma série de exemplos que ilustram a
ação da Palavra na existência profética no meio de um povo que atravessa o
período mais difícil de sua história.

4. O ministério da Palavra
no decorrer dos anos.
A solidão que caracteriza o ministério de
Jeremias desde o começo não é apenas o produto de uma experiência religiosa que
o singulariza; ela é fruto do conteúdo da mensagem a ele confiada. Essa
mensagem defronta constantemente os judeus com o nada, com o abismo do não-ser
da comunidade e da criação (cf. 4,23-26). A solidão de Jeremias possui uma
dimensão política, pois o ser ou o não-ser de todos depende da aceitação ou da
rejeição de sua mensagem. Se sua solidão se prolongar e os judeus se obstinarem
recusando escuta-lo, o profeta será efetivamente o único a sobreviver ao
desastre universal. Ao contrário, se encontrar audiência, o desastre será
evitado, ou, ao menos, atenuado, abrindo-se uma nova perspectiva de bem-estar.
A mensagem contestatária de Jeremias exige imperativamente escolhas radicais.
Pare ele, como para a maioria dos profetas, a Palavra é necessariamente palavra
total, envolvendo todos os aspectos, pessoais e comunitários, da vida humana.
Podemos identificar três
períodos no ministério de Jeremias.
a) O primeiro vai desde a
vocação (data incerta) até aproximadamente 605, ano da batalha decisiva de
Karkemish. Sob o reinado de Josias, morto em 609, Judá vive, primeiro, um
período de calma, caracterizado por certa prosperidade. A Assíria deixou de
dominar o mundo, e Judá goza de uma ampla liberdade, da qual Josias tira
proveito para ampliar o território e promover todo tipo de reforma. Depois de
sua morte, a região gravita, durante alguns anos, na órbita dos egípcios, sem,
porém sentir tal jugo como particularmente duro. Trata-se, para Judá, de anos
relativamente pacíficos, excetuando a escaramuça – se realmente houve uma! – de
Meguido, fatal apenas para Josias (cf. 2Rs 23,29). É justamente durante
esses anos que Jeremias é obrigado a anunciar uma mensagem completamente
estranha: através de poemas dotados de extraordinário poder evocador, ele
descreve a chegada de um exército invencível que, vindo do norte, vai se abater
sobre Jerusalém e Judá (cf. especialmente caps. 4 – 6), exército
implacável, que não deixaria nenhuma esperança aos vencidos – a menos que estes
se convertessem a Yaohu antes que fosse tarde. Jeremias sabe que a
inverossímil advertência que ele é encarregado de dar aos seus conterrâneos não
tem chance de encontrar reação favorável. O povo e seus dirigentes estão
demasiadamente seguros de si, convictos de que suas instituições são
inabaláveis, destinadas a durar para sempre (cf. 18,18; 8,8). Em caso de
necessidade, eles terão sempre como último refúgio o templo e sua
secular inviolabilidade (cf. 7,4.10). Além disso, depois de uma sondagem
cuidadosa junto às diversas classes da população, Jeremias deve render-se à
evidência: o povo todo, dirigentes e súditos, exploradores e explorados, está
corrompido (cf. 5,1-6), irremediavelmente perdido – um negro pode por acaso
mudar de pele? Uma pantera, de pêlo? E os judaítas, acostumados a praticar o
mal, poderiam praticar o bem (13,23)? – Essa mensagem, contudo, sem nuanças
(é tudo ou nada), não será levada a sério. A reflexão do profeta é abstrata
demais, ela não casa com a realidade, que nunca é totalmente preta ou
totalmente branca, e sim, sempre um pouco preta e um pouco branca. O que ele
fala paira nas esferas nebulosas de um conhecimento de Yaohu em flagrante contradição
com aquilo que a tradição ensina – pois Yaohu é um Deus próximo, familiar (cf.
23,23), que não abandona os seus. O gesto eloqüente do rei Joaquim que, imperturbável,
destrói, pedaço por pedaço, o rolo que contém esses textos
inacreditáveis, expressa bem o fracasso da pregação de Jeremias durante
todo esse primeiro período de seu ministério (cap. 36).
b) O segundo período, que
vai de 605 a 587, desde a ascensão de Nabucodonosor ao trono à destruição de
Jerusalém, é, sob muitos aspectos, o mais significativo no ministério de
Jeremias. Suas profecias relativas a uma invasão militar, de repente, se
realizam. Repetidamente, o rei dos babilônios invade com seus exércitos
vitoriosos a Síria e a Palestina, decidida a impor sua vontade a todos os
pequenos estados que encontra no caminho. A independência de Judá acabou. Mesmo
assim, os responsáveis pela sua política não chegam a um entendimento sobre as
medidas a tomar.
A maioria opta
decididamente por uma política voltada a reconquistar a independência; pensa-se
numa aliança com o Egito, sempre disposto a manter os babilônios a boa
distância, e com os vizinhos pequenos, igualmente ameaçados pelo avanço dos
babilônios. Esta dura política goza do manifesto apoio do chefe de estado, o
rei davídico.
Uma minoria, contudo,
está disposta a se acomodar à tutela babilônica, na esperança de conservar
certa autonomia no âmbito do império de Nabucodonosor. Os nomes de vários
membros eminentes do partido favorável aos babilônios foram conservados graças
ao livro de Jeremias: Ahiqâm, poderoso protetor de Jeremias (26,24), seu filho
Godolias, que será nomeado governador da província, após a queda de Jerusalém,
e Baruk ben Neriá, a pessoa que ajudou Jeremias a editar seus oráculos. Seria
errado considerar Baruc como um simples “escriba”, um personagem de segunda
monta a serviço de Jeremias, uma espécie de estenógrafo que teria estado à
disposição do profeta para facilitar sua tarefa. Baruc era, ao contrário, um
sofer, isto é um secretário de estado, um alto funcionário então, quase um
chanceler, portanto uma personalidade de destaque, assim como o seu irmão
Seraiá, que se tornará chefe de distrito na administração babilônica (cf.
51,59). Aliás, o prestígio de Baruc era tal que era considerado como uma das
lideranças do partido pró-babilônio e como o verdadeiro instigador dos oráculos
de Jeremias (43,3).
A alternativa política
se apresenta em termos extremamente claros: ou se aposta na liberdade – ou algo
parecido, já que o Egito estará pouco disposto a se retirar depois de ter auxiliado
Judá –, sob o risco de perder tudo em caso de derrota; ou se aceita a
integração no sistema político dos babilônios.
Sem querer, Jeremias se
vê envolvido nessas discussões. A sua posição é clara: é necessário aceitar a
supremacia de Babilônia. Não por oportunismo (Jeremias não é um político),
mas porque essa é à vontade de Yaohu. Aquilo que Yaohu deseja não é um estado
judaíta independente e forte, com o poder firmemente assentado nas mãos de uma
dupla hierarquia, civil e religiosa, e sim, um povo que lhe seja fiel, que
responda ao seu apelo paterno (cf. já 3,22 – 4,4), preocupado em defender o
direito e em viver na harmonia (cf. 22,13; 23,5-6 e já 5,1-3). Na opinião dele,
o partido favorável à independência caracteriza-se pelo desprezo de todos os
valores que agradam ao ETERNO, sendo o rei o principal responsável (22,13-17).
É por causa disso que Yaohu decretou o fim do Estado. Ele pensa
num projeto completamente novo: no seio do império babilônico, Yaohu se propõe
criar, com aqueles que se submetem a seu julgamento, uma comunidade renovada, que
não procure mais a própria glória, mas desejosa de atender ao bem estar
de todos, já que a prosperidade dos outros é a condição da sua (29,5-7).
Esta comunidade conhecerá finalmente, após a volta feliz à terra dos
ancestrais, uma maravilhosa interiorização dos compromissos outrora assumidos
com o ETERNO, a tal ponto que não será mais necessária nenhuma hierarquia
mediadora entre Yaohu e os homens (31,31-34). Esta mensagem supera a visão de
3,15 e 23,6, conforme a qual o ETERNO dirigiria o seu povo com a
ajuda de pessoas totalmente consagradas a ele; ela divisa a total
realização da Aliança da Jerusalém celeste.
c) O terceiro período do
ministério de Jeremias começa depois de 587, isto é, depois da catástrofe de
Jerusalém. Período cuja importância é freqüentemente subestimada, porque se
esquece que, apesar das deportações efetuadas pelos babilônios (envolvendo
apenas algumas camadas da população) a maioria dos habitantes ficou em Judá. No
meio dessas massas sem rumo, iam aparecendo três tendências. Uma delas,
sustentada pelas lideranças do antigo partido pró-babilônico, em particular por
Godolias, visava reconstruir o país sob a égide babilônica. Jeremias pertencia
a esse grupo. Outro grupo, dirigido por Iishmael, homem sem escrúpulo e que
contava com o apoio do rei amonita, pretendia continuar a luta, praticando atos
de terrorismo (cf 41,10). Finalmente, um terceiro grupo, animado por um certo
Iohanan ben Qarêah, preferia expatriar-se para o Egito. Contrariando um oráculo
de Jeremias que desaconselhava essa conduta, este grupo realizou os seus
projetos, levando consigo o profeta, cujo rastro se perde no longínquo Egito.

5. A formação do
livro. As grandes articulações do livro de Jeremias são bastante simples:
1,1 – 25,14: Oráculos e
ações simbólicas de Jeremias dirigidas contra Judá;
26,1 – 45,5: Oráculos de
salvação para Israel-Judá e relatos acerca do ministério de Jeremias;
46,1 – 51,64 (com uma
introdução em 25,15-38): Oráculos contra as nações estrangeiras;
52,1-34: Anexo histórico
baseado em 2Rs 24,18 – 25,30 (com a inclusão de algumas novas informações): A
queda de Jerusalém.
Na versão grega,
os oráculos contra as nações estrangeiras estão inseridos imediatamente depois
de 25,13. Esta disposição representa provavelmente um estágio mais antigo do
rolo, pois constata-se que vários outros livros proféticos (Is 1 – 39; Ez; Hc;
Sf) foram compostos de acordo com o esquema tripartido que situa os oráculos
contra as nações entre os oráculos de desgraça contra Israel e os oráculos de
salvação para Israel.
No interior de cada
uma das grandes partes do livro, percebem-se seções menores, composições
coerentes, blocos de oráculos que parecem ter existido sob forma de folhetos ou
de livros independentes, antes de serem inseridos na grande coleção de textos.
Notamos, por exemplo, coleções como 22,11 – 23,8, reunindo oráculos sobre “a
casa de David”; 23,9-40: “Sobre os profetas”; 30,1-31.40: o “livro” (30,2) que
anuncia a restauração do novo Israel. Ainda, composições como o capítulo 2; os
caps. 4 – 6; 14,1 – 15,4. Etc. poderiam ser contados entre as coletâneas
jeremianas que precederam a formação da coleção definitiva.
No que diz respeito à
composição da primeira parte do livro (caps. 1 – 25), o episódio do rolo escrito
por Baruc, destruído por Joaquim e recomposto numa edição ampliada (“e ainda
foram acrescentadas outras palavras semelhantes”, 36,32), desempenha um papel
importante nas considerações dos exegetas. Este rolo continha os oráculos
ameaçadores pronunciados antes de 605, e é bem provável que seu conteúdo tenha
entrado no material atualmente reunido em Jr 1 – 25. A sagacidade dos exegetas
se tem esforçado bastante para identificar esses textos, mas as pesquisas
conduziram a resultados contraditórios e não se chegou até agora a um consenso.
Por enquanto é melhor renunciar à reconstrução desse “rolo primitivo”.
O problema se complica
pelo fato de os caps. 1 – 25 conterem, ao lado dos oráculos poéticos, de
autenticidade indubitável, um grande número de passagens, mais ou menos longas
– às vezes capítulos inteiros –, redigidos numa prosa, que pelo vocabulário e
pensamento teológico, lembram o trabalho dos editores deuteronomistas, que
durante o exílio redigiram o grande afresco histórico atualmente encontrado nos
livros denominados “profetas anteriores” (cf. Introdução aos Livros
Proféticos). Assim como estão, essas passagens não devem ser consideradas como
obra pessoal de Jeremias, sendo necessário admitir, ao menos, que elas
representam oráculos de Jeremias reelaborados por editores posteriores.
Na segunda parte do
livro, os relatos sobre o ministério de Jeremias são comumente atribuídos a
Baruc. Pensa-se nele como autor, por causa das informações precisas que os
relatos contém, representando, sem dúvida, as observações de uma testemunha
ocular dos acontecimentos, e também porque terminam com um oráculo pessoal
dirigido a Baruc. Essa atribuição, embora possível, não é nada segura. O autor
acompanhou provavelmente Jeremias no Egito (cf. os caps. 43 – 44), e o versículo
43,6 nos informa que Baruc, antigo líder do partido pró-babilônico, foi levado
à força para o Egito, junto com Jeremias.
No início do tempo do
Exílio existiam portanto numerosos livrinhos, folhetos e coletâneas dispersas e
ainda, provavelmente, algumas tradições orais relativas a Jeremias. Um
redator anônimo reunirá todo esse material num único volume. Ignoramos
a identidade desse redator; contudo, ele se entrega nos inúmeros acréscimos,
composições coerentes (discursos, um ou dois relatos) e comentários de estilo
deuteronomistas que acima mencionamos e que balizam quase todos os capítulos do
livro. O redator final do livro de Jeremias pode ser tranqüilamente associado à
escola “deuteronomista”. Devemos admitir que a Palestina manifesta, por volta da
segunda metade do séc. VI, uma intensa atividade literária e teológica; um
trabalho de reflexão, de pesquisa e de edição, que consistia em colecionar e
interpretar documentos, reuni-los em volumes compactos e deles tirar as
conclusões que se impunham em vista de uma melhor compreensão do destino de
Israel.


VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE JEREMIAS:

JEREMIAS.
Pontos fortes e êxitos:
Escreveu dois livros do Antigo Testamento:
Jeremias e Lamentações.
Ministrou durante o
reinado dos últimos cinco reis de Judá.
Foi um incentivador da
grande reforma espiritual que ocorreu no reinado de Josias.
Agiu como um fiel
mensageiro de Yaohu, apesar de ter sofrido muitos atentados contra a sua vida.
Ficou tão profundamente
entristecido com a condição decaída de Judá, que ganhou o título de “profeta
chorão”. (O que discordo plenamente... Pois quando sofremos pelos outros em
nome de Yaohu – somos rotulados como o foi Jeremias. Um absurdo. Anselmo
Estevan.).


Lições de vida:
A opinião da maioria não é necessariamente
a expressão da vontade de Yaohu.
Embora o castigo pelo
pecado seja severo, há esperança na misericórdia de Yaohu.
Yaohu não aceitará uma
adoração vazia ou que não seja sincera.
Servir a Yaohu não
garante segurança terrena.


Informações essenciais:
Local: Anatote.
Ocupação: Profeta.
Familiares: Pai –
Hilquias.
Contemporâneos: Josias,
Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim, Zedequias e Baruque.


Versículos-chave: “Então disse eu: Ah! ETERNO YAOHU! Eis que
não sei falar; porque sou uma criança. Mas o ETERNO me disse: Não digas: Eu sou
uma criança; porque, aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar
dirás. Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, diz o
ETERNO” (Jr 1,6-8).
A história de Jeremias é
contada no livro que tem o seu nome. O profeta também é mencionado em Esdras
1,1; Daniel 9,2; Mateus 2,17; 16,14; 27,9.
(Veja em 2 Crônicas 34 e
35 a história do avivamento espiritual durante o reinado de Josias.).

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